10 coisas que aprendi sobre baleias na ilha do Faial (Açores)





Dizem que é a partir dos passeios com origem no Faial ou no Pico que se tem maior possibilidade de avistar baleias, embora se possam encontrar excursões em todas as ilhas. Nada como confirmar. E para tal, levantei-me bem cedo para estar ainda antes das 9h00 no Porto do Faial, no escritório da Horta Cetáceos, onde nos aguardava o Pedro, um comunicador nato "doutorado" em baleias. O tempo parecia não ajudar, estava a chover e não nos garantiram que faríamos o passeio. Lá foram ligando aos dois vigias que existem na ilha  (duas pessoas que passam o dia em locais estratégicos e de binóculos apontados para o mar) até confirmarem que havia baleias em alto mar. E lá fomos nós à procura delas. Pelo caminho, aprendi imensa coisa que não sabia:

1- Existem cerca de 85 espécies de baleias e nos Açores é possível avistar cerca de 25 ao longo do ano. Algumas são residentes, outras são migratórias. 

2 - As baleias residentes são sempre as fémeas. Os machos vão passando para dizer "olá" e dar umas pinocadas, "mai nada"...

3- Quase todas as baleias migratórias que aqui passam estão a caminho do Ártico.

4 - Só a baleia azul, que pode até ter 30 metyros de comprimentos, come perto de 4 toneladas de plancton por dia. Quando abre a boca, forma uma autêntica gruta com 9 metros de largura....

5- O que mais vemos nestes passeios são cachalotes. Podem mergulhar até 3 mil metros de profundidade. 

6- A caça ao cachalote nos Açores terminou em 1987. Não foi assim há tanto tempo.

7 -Na altura em que se caçavam cachalotes, fazia-se farinha com os ossos para produzir ração para os animais,  o óleo era usado como combustível e a carne era consumida, mas consta que não era grande coisa e por tal o seu consumo não deixou saudades.

8 - Os guias que acompanham estes passeios são quase sempre estudantes do Mestrado em Oceanografia, um curso que, em Portugal, só existe na Universidade dos Açores. 

9 -Também há passeios para ir nadar com golfinhos em alto mar e para nadar com tubarões. Gostei de saber que este último é feito bem longe da costa....

10- A melhor altura do ano para fazer estes passeios, quando se conseguem avistar mais espécies de baleias, é na Primavera. Eu fui em finais de Junho. No Inverno, as condições do mar não são as melhores por isso não há passeios.


E pronto, foi um passeio de manhã inteira (levem snacks e protector solar) que mereceu bem os 55 euros que paguei. Vi muitos cachalotes e imensos golfinhos. Mas os guias, no início do passeio, avisam logo que não é 100% garantido de que vamos ver baleias. Mas também dizem que é mesmo muito raro elas não aparecerem, Para a próxima, já decidi, vou nadar com golfinhos em alto mar. 

Visita relâmpago à ilha do Faial (Açores)


Fiquei instalada no Faial Resort Hotel e recomendo.
A vista para a ilha do Pico é impressionante!
 Tantas histórias de tanta gente de tantos lugares do mundo.
Este é o 3º Porto da Europa que recebe mais embarcações de recreio
e o 4º do Mundo.




Foi mesmo uma visita relâmpago. Apenas uma tarde e um dia inteiro nesta ilha. Soube-me a pouco, até porque estava calor e nem houve tempo para ir a banhos na maravilhosa praia de Porto Pim ou nas piscinas naturais. Ainda assim, consegui ver o principal: a marina repleta de pinturas feitas por tripulantes de embarcações de todo o mundo (uma tradição que consta dar boa sorte). Andei mais de duas horas sózinha a ver estas pinturas que incluem sempre o nome da embarcação, país de origem e ano e que atracaram no Faial. Também fui espreitar o famoso bar Peter's, cujo dono é uma simpatia e prepara gins que ficaram famosos, alguns dos quais usando as frutas da ilha: gin com ananás ou gin com maracujá. O Peter é de tal modo uma figura emblemática da ilha que tem uma rua com o nome dele onde, aliás, uma boa parte dos negócios desta rua lhe pertencem: café, lojas e agência de passeios para ir ver baleias e golfinhos.


O "Peter Café Sport", na rua em frente à Marina.
Convento de São Francisco (1522)
Baía de Porto Pim
A praia de Porto Pim


Praia de Almoxarife. Almocei muito bem no Restaurante Minimar,
colado a esta praia.

Amei a cratera vulcânica com 8 kms de diâmetro, provavelmente a paisagem mais incrível que vi nas 3 ilhas que visitei. E claro, também visitei o centro interpretativo do Vulcão dos Capelinhos que me deixou de queixo caído dada a qualidade interactiva deste Museu onde podemos saber tanto sobre este vulcão e ler tantas histórias de testemunhas que ficaram (houve quem ficasse a viver na ilha durante os meses todos que durou a erupção) e que partiram (muitos aproveitaram as facilidades dadas pelos EUA e Canadá para emigrar). E, claro, nenhuma visita ao Faial ficaria completa sem um passeio para ir ver as baleias. Fui, vi e, se não fosse tão caro, teria também feito o tour para nadar com golfinhos em alto mar, uma experiência que dizem ser memorável e parece que são poucos os locais do mundo onde se pode nadar com golfinhos selvagens. O Faial é sem dúvida uma ilha para repetir, até porque serve de base para visitar Pico (existe rivalidade entre as duas ilhas mas uma não vive sem a outra) e do Pico podemos ir facilmente a São Jorge. Dizem que esta última e as Flores são as ilha mais bonitas do arquipélago. Um dia, vou ter de confirmar.

O farol da ponta dos Capelinhos.
O contraste entre a parte nova da ilha (pós erupção) e a parte
que já existia é bem visível a olho nu.
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Foto panorâmica da cratera de vulcão com 8 kms de diâmetro. Existem vários
trilhos para fazer caminhadas de 3 a 5 horas em redor desta cratera.


Os Capelinhos foram outra boa surpresa. Eu adoro vulcões, por isso já sabia que ia gostar da paisagem lunar mas estava a milhas de imaginar que o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos fosse tão bom, merecendo cada cêntimo dos 10 euros que custa o bilhete. Tem uma exposição excelente com depoimentos de habitantes e vulcanólogos, muitas histórias de quem ficou e de quem partiu,  um vídeo sobre o vulcão, hologramas, um apanhado de notícias sobre as erupções, fotos magníficas e a vista incrível do topo do farol onde é bem visível a parte nova da ilha, já que o farol antes estava na ponta. Foi a 27 de Setembro de 1957 que este vulcão começou a cuspir fogo, pedras e lava sem parar, durante 13 meses! E enquanto alguns habitantes fugiram, emigrando para os EUA e Canadá (estes países facilitaram a entrada de açoreanos devido ao vulcão), houve quem ficasse de pedra e cal, recusando-se a abandonar a sua casa. Há relatos de todas estas pessoas ao longo da exposição. E muitas delas afirmam mesmo que esta erupção foi a melhor coisa que aconteceu no Faial já que colocou a ilha nas bocas do mundo e atraiu vulcanólogos de várias nacionalidades e inúmeros turistas, indiferentes aos muitos tremores de terra que se seguiram durante meses a fio. Era mesmo eu que ficava a viver em cima de uma bomba relógio...

Um bunker da Segunda Guerra Mundial no monte do
miradouro da Sra. da Guia. 
Fábrica da Baleia, uma das principais atracções do Faial, na subida para
o Miradouro da Senhora da Guia
Vista do céu, esta cratera tem a forma perfeita de um coração.



Nunca vi tanta a gente pescar tanto peixe em tão pouco tempo.
E mesmo ao lado, uma piscina natural com vista para o vulcão.
O peixe no mercado do Faial. Baratíssimo!
Isto é uma dose para dois...Dá para quatro à vntade.

Um livro repleto de histórias curiosas.

A despedida do Faial não poderia ter sido melhor, terminando com um jantar soberbo num novo restaurante, o Guernica, propriedade do Sr. Genuíno, na baía de Porto Pim. Assim que me sentei à mesa reparei que a sala de refeições estava cheia de artesanato, camisolas e postais de todo o Mundo, o que me deixou intrigada por ser um restaurante novo. Tive de perguntar ao empregado que me serviu qual o motivo daquela decoração. Fiquei a saber que o dono, o Sr. Genuíno, já deu duas vezes a volta ao mundo num veleiro. E sempre sózinho. Uma história fascinante de determinação e coragem. Trata-se do único velejador português a conquistar este feito por duas vezes e o 10º do Mundo a fazer esta viagem, dobrando o cabo Horn do Atlântico para o Pacífico. É claro que quando o próprio do Genuíno veio à nossa mesa perguntar se estávamos a gostar do melhor arroz de marisco que já comi até hoje (uma dose de 25 euros que dava para 4 pessoas, sobrou imenso...), foi bombardeado com perguntas a torto e a direito... Nunca tinha falado com ninguém tão viajado e fiz questão de lhe perguntar montes de coisas. Ele foi bem simpático e respondeu a tudo. Quais os locais que mais gostou de visitar? As ilhas Marquesas, onde viveu Gauguin, um dos seus pintores preferidos, e Jacques Brel, que teve oportunidade de conhecer pessoalmente. E destacou também a Ilha da Páscoa. As histórias mais marcantes estão todas no livro de capa dura que vende no restaurante (folheei e gostei) e ainda vende CD's com as músicas que o acompanharam nas viagens. Ou seja, é um ex-pescador, agora mestre de hotelaria e com veia de marketeer. Lindo!


Para finalizar o relato sobre o Faial, tenho de destacar a rivalidade entre esta ilha e a ilha do Pico. Estas duas ilhas têm uma relação de amor-ódio. E como Pico não há hospital, os faielenses fazem troça dos seus rivais porque têm de ir nascer no território do "inimigo". No Pico também não há cidades nem porto marítimo e os habitantes fazem troça dos do Faial porque dizem que a vista mais bonita que os faielenses têm na ilha deles...é a do vulcão do Pico. Por outro lado, este mesmo vulcão é muito útil aos faielenses para fazer previsões meteorológicas. Pela forma como as núvens, ou a sua ausência, contornam o vulcão, mais abaixo ou mais acima, em maior ou menor densidade, sabem se vai chover ou não e se vai estar mais ou menos calor. É curiosa esta ligação entre as duas ilhas. E apesar de tudo, conheci alguns locais no Faial que me falaram maravilhas das festas, da comida, das praias, piscinas naturais e do vinho da ilha do Pico. Vou ter de lá ir um dia para confirmar.