Kenroku-en, um dos três jardins mais famosos do Japão.

Lago Kasumi
O jardim Kenroku-en ("Jardim das Seis qualidades") foi criado no séc. XVII
 pelo clã Maeda e abriu ao público em 1871. Contém cerca de 12 mil árvores
e vários lagos.





Vista panorâmica da cidade de Kanazawa
Os pinheiros são cuidados com paciência
de japonês, agulha a agulha. 

Ainda não vi o Japão na Primavera, com as sakuras repletas de flores. Mas aposto que o Outono não lhe fica atrás. Os tons amarelos, laranja e vermelhos criam degradés de folhagem absolutamente deslumbrantes. E nada melhor do que um passeio num jardim para nos maravilharmos com este espectáculo gratuito da Natureza. Bem, neste caso, tive de pagar bilhete para entrar no jardim, mas o valor é quase simbólico, cerca de 3 euros. E depois de ver a quantidade de jardineiros que nele trabalham, dá para perceber para onde vai o dinheiro. E é giro ver os japoneses a preparar os tripés e as lentes para fotografar uma flor ou uma simples folha. Deve ser bom ser jardineiro no Japão. 



Também há Lolitas em Kanazawa
Estátua de Yamato Takeru, um príncipe
da dinastia Yamata
Casa de chá Shigure-tei (1725)


O Castelo de Kanazawa





O castelo de Kanazawa é uma das visitas obrigatórias nesta cidade. Trata-se de um dos maiores castelos feudais do Japão. Na verdade, como acontece com quase todos os templos e castelos japoneses, trata-se de uma reconstrução porque o castelo original foi quase todo destruído por vários incêndios. No Japão isto era normal. Terramotos e incêndios provocados por terramotos deram cabo de quase todos os monumentos. Em Kanazawa, resistiram apenas intactos os edifícios onde se armazenavam armas e um dos portões do castelo. Mas as sucessivas  reconstruções, que custam fortunas, permitem ver como era este castelo que este sob o domínio da família Kaga (juro que é verdade, não me enganei no nome)...



Tive a sorte de visitar este castelo com um guia local que estava à entrada do castelo à espera de turistas, como nós. Um voluntário com cerca de 65 anos que, além de nos contar coisas bastantes curiosas sobre o local, foi bombardeado com as perguntas de três portugueses e uma neozelandesa. Não podíamos deixar escapar a oportunidade de esclarecer um monte de dúvidas que nos estavam a matutar na cabeça. Afinal, encontrar um japonês que se expresse bem em inglês é uma raridade. Foi pois interessante, embora algo deprimente, saber que o ordenado médio de um estagiário no Japão ronda os 2 mil euros ... Fiquei também a saber que os japoneses aprendem inglês na escola, mas como não têm muitas oportunidades para praticar, a maior parte acaba por se esquecer do que aprendeu. E dá para sentir. Mas nesta viagem, aprendi montes de palavras novas. Junte-se-lhe a boa vontade e delicadeza dos japoneses, e acho que me atrevia a ir para locais sem turismo. Os marroquinos têm tanto a aprender com este povo. Quando o nosso passeio acabou, quisemos oferecer uma gratificação ao guia mas ele recusou com grande determinação. Nem deu hipótese. Se estivéssemos em Marrocos, um guia não só nos iria exigir um preço por ele estabelecido no final do passeio, como sairiam logo mais trinta marroquinos debaixo das pedras. E todos de mão estendida.

Kanazawa (Japão) by night





Se havia coisa que o M. queria fazer em Kanazawa, era visitar uma loja de shamisen com mais de 120 anos. A ideia parecia interessante e acabou por se revelar numa experiência giríssima com direito a vídeos no facebook para os amigos verem as nossas figuras tristes a fingir que tocávamos. Já estava a anoitecer quando chegámos à loja, no bairro de Higashi Chaya, mesmo em frente a um daqueles cafés onde se paga para ter um gatinho um colo, os Neko No Mise. Quando lá chegámos, a loja estava fechada. Ora bolas! Mas como bons tugas que somos, tocámos à porta e dissemos com ar de Calimero que tínhamos vindos de propósito de Portugal até o Japão para ver aquela loja... Foi feio, eu sei. Mas não era de todo mentira e a verdade é que este argumento abriu-nos as portas para uma visita privada a um autêntico Templo de Shamisens. Estivemos cerca de meia hora na loja e o M. ainda pensou na hipótese de comprar um destes instrumentos mas desistiu logo quando soube que o mais barato de todos custava...quinhentos euros. Upa, upa. Vimos a loja fora de horas e já foi muito bom, até porque fazer um japonês quebrar regras, e abrir portas depois do fecho de uma loja, é um feito digno de registo.

O bairro de Higashi Chaya está repleto de casas de chá
e restaurantes , alguns deles frequentados por gueishas.
A palavra Chaya significa chá.
Entrada de um restaurante
O meu jantar, um peixe parecido com a sardinha, mas maior.
Se há coisa que adoro no Japão é a iluminação dos espaços,
sempre morna e acolhedora.



Cores e odores do Mercado Omicho em Kanazawa (Japão)

A entrada principal do mercado



Snacks de peixe seco.....Argh!|

Cogumelos de diferentes variedades

As lojas de saké colocam uma bola de cedro à entrada quando querem
anunciar a existência  de saké novo para venda.
Chá verde a granel de uma variedade
 com menos cafeína que o normal

Já devo ter escrito isto algumas trinta vezes, mas volto a repetir. Adoro visitar mercados. Como tal, não poderia deixar de ir dar uma espreitadela ao Mercado Omicho, o principal mercado da cidade de Kanazawa que remonta ao Período Edo (meados do séc. XVIII). O mercado, que fica a uns 20 minutos a pé da estação de comboios de Kanazawa, tem cerca de 200 stands de fruta, legumes, peixe, carne, pickles, chá, flores, tofu, bolinhos de peixe, artigos de cozinha e, o que mais me impressionou, uma grande variedade de alimentos secos e fumados. É um festival de cores, mas nem tanto de odores, já que tudo está tão imaculadamente limpo que só se nos aproximarmos muito das bancas é que sentimos o odor dos alimentos. Está aberto todo o dia e nas horas de almoço é muito frequentado pelos locais e por turistas que aqui vêm almoçar aos seus restaurantes. E é aqui que se abastecem os restaurantes da cidade, conhecidos por servirem pratos de peixe e marisco do Mar do Japão. 


Banca especializada em peixe frito e fumado









Estação de comboios de Kanazawa, uma das 10 mais bonitas do Mundo.

A Estação de Kanazawa foi inaugurada em 2005
Esta é a principal estação de comboios na prefeitura de Ishikawa
e serve cerca de 20.000 passageiros por dia

As colunas de madeira lembram tambores gigantes

Uma fonte que escreve o nome da cidade e a hora local
com jactos de água

Quando cheguei a Kanazawa, vinda de Takayama (uma viagem de comboio que me fez passar por locais com paisagens deslumbrantes), não fazia ideia de que a estação de comboios JR fosse uma obra arquitectónica tão impressionante! Trata-se de uma interpretação moderna de um portão de um templo shintoísta, embora seja mais descrita como tendo forma de um tambor. Para mim, vista de longe, lembra um capacete de Samurai. Seja lá qual for a inspiração, passado e futuro andam de mãos dadas nesta obra de engenharia, como acontece em tantos outros aspectos no Japão. Para a Revista Travel&Leisure, uma das bíblias da escrita de viagens, esta é mesmo uma das 10 estações de comboios mais bonitas do mundo. Também consta uma estação de comboios portuguesa nesta lista e não é muito difícil adivinhar que se trata da Estação de São Bento, no Porto, a norte de Portugal. A construção foi polémica, como acontece frequentemente quando se tenta construir algo mais arrojado em locais com fortes tradições históricas e culturais, como é o caso desta cidade que sobreviveu aos bombardeamentos da Segunda Guerra Mundial. Espero que a população já se tenha conformado. Para mim, foi a estação mais bonita que vi até hoje. E já vi várias das que estão na lista.

Shirakawa-go. Uma vila japonesa Património Mundial da Humanidade


Para chegar à vila, há que atravessar uma pequena ponte estilo "Indiana Jones"

Mais uma miúda que me apetecia
ter trazido comigo...
Os canais de rega estão cheios de peixes
pois também servem para aquacultura- Genial!

Estava capaz de cortar os pulsos se não tivesse ido ver esta vila. Posso dizer que de todos os locais que tinha planeado visitar no Japão, este era o aquele mais queria ir ver. Shirakawa-Go é uma vila localizada no vale Shokawa, os Alpes Japoneses, que parece uma aldeia de bonecas retocada com Photoshop. Mas é tudo real e 100% natural. A arquitectura das casas, de estilo "Gassho-zukuri", com telhados de colmo bem inclinados, faz lembrar as casa de Santana, na ilha da Madeira. Com a diferença de que nesta pequena aldeia só existem casas destas, todas de telhado inclinado estilo "Gassho" que significa "mãos em oração", pois assemelham-se à forma das mãos quando juntas para rezar. Estes telhados são construídos de forma a suportar o peso da neve, que pode ir até aos dois metros de espessura, e a escoar a água da chuva, para que a palha não apodreça. Até aos anos 70, era frequente as famílias que habitavam estas casas dedicarem-se à criação de bichos da seda.

Espantalhos num dos campos cultivados 




No vale Shokawa existem duas zonas que merecem ser visitadas, Shirakawa-go e Goyakama. Das 1800 casas Gassho, restam hoje cerca de 150 distribuídas por várias aldeias, todas elas Património Mundial da Humanidade. Estas vilas ficam entre Takayama e Kanazawa e não existe comboio para lá chegar. Existem autocarros para lá chegar, para os preços dos bilhetes são exorbitantes, se tivermos em conta que fica apenas a 35 km de Takayama. Rondam uns escandalosos 40 euros por pessoa. Também existem excursões com preços ligeiramente inferiores, 30 a 35 euros por pessoa. Mas como éramos 3 pessoas, alugámos um carro por seis horas numa companhia rent a car mesmo em frente à estação de comboios de Takayama (é uma grande ideia esta do aluguer de curta duração), pagando cerca de 60 euros, e fomos por nossa conta e riso para Shirakawa-Go, poupando 60 euros caso tivéssemos ido de autocarro. Andámos calmamente a passear na vila, sem pressas, ao nosso ritmo, até ao anoitecer. Regressar a Takayama foi uma aventura, porque se na ida nos tinham programado o GPS para lá ir ter direitinho, no regresso não sabíamos programar a maquineta para nos levar de volta à vila. Foi um filme.... mas fomos lá dar por estradas secundárias. E felizes da vida por termos passado umas boas horas nesta vila pitoresca que eu tanto queria no ter no meu cadastro de viajante. E já ninguém a tira de lá.

Um grupo de estudantes simpáticas
com quem estivemos à conversa
Até as tampas de esgoto têm design!


A vista da vila de um ponto alto